sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Caos na educação reflete o caos da sociedade burguesa

No dia 23.01 a imprensa burguesa noticiou que 40% dos professores temporários (ACTs) não conseguiram atingir a nota mínima no processo de seleção organizado pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Devido ao baixo número de aprovados, o secretário Paulo Renato foi forçado a admitir que muitos professores que não alcançaram a nota mínima irão lecionar no ano de 2010, o que deslegitima todo o esforço que a Secretaria de Educação fez para aprovar as PLCs 19 e 20, enfrentando inclusive uma greve dos professores no ano passado. E cabe lembrar aqui, uma greve que foi boicotada pela direção majoritária da APEOESP, cujo resultado catastrófico (a aprovação dos PLCs) foi alardeado por essa direção como sendo uma “vitória”.

Poderíamos questionar em que medida essa prova realmente avalia o conhecimento dos professores. Mas, acima de tudo, esse fato demonstra algo brutal. Ele demonstra a que ponto a força de trabalho dos professores vem sendo destruída durante séculos de exploração capitalista. Essa degradação é conseqüência das péssimas condições da educação nas escolas e nas universidades, resultado inevitável da transformação da educação em mera mercadoria, cujo objetivo principal deixou de ser educar, mas valorizar o capital.

Na ânsia por valorizar seu capital, a burguesia ocupa todos os cantos do planeta. Como não poderia deixar de ser, o setor educacional brasileiro não escapa a essa lógica. Desenvolve-se toda uma rede de empresas que se beneficiam com todo esse sistema de avaliação. Para aplicar seu capital na área da educação a burguesia financia programas de “melhoria da educação”, como o Educação para Todos, monitorado pela UNESCO, que possibilita a contratação de várias empresas que formulam e imprimem as provas e apostilas, outras que dão suporte técnico para a formação dos professores, outras que produzem e vendem livros e equipamentos, como computadores, data-shows, etc... A maioria desses equipamentos são subutilizados nas escolas, mas para o capital isso não importa, pois o valor já foi valorizado. Esses são apenas alguns exemplos de como a educação pública é utilizada para gerar lucro ao grande capital. São formas de a educação pública entrar na reprodução do capital, mesmo que na instância da circulação, mesmo que apenas por meio da realização do valor.

O interesse dos governos, por sua vez, também está relacionado com a valorização do valor. Eles estão sempre ávidos por receber vultosas somas das agências de financiamento de projetos destinados a suposta “melhoria da educação”. Para receber o seu quinhão o Estado signatário do projeto deve comprovar que atingiu as metas. Assim, a realidade escolar é falsificada apenas para provar que as metas foram alcançadas e o governo receber novos financiamentos. Outra forma que os governantes encontram para aumentar os recursos é diminuindo o custo-escola, e fazem isso degradando as condições de trabalho do professor por meio do arrocho salarial e da superlotação das salas de aula. Assim, a destruição das condições de vida dos professores é o resultado desse processo violento de valorização do capital.

Afinal, para que serve a escola numa sociedade baseada na exploração do trabalho pelo capital? Na fase de agonia do capitalismo, a escola se tornou um grande depósito de gente: os alunos se tornaram prisioneiros atrás das grades das escolas, onde suas legítimas manifestações devem ser obrigatoriamente reprimidas, a fim de manter a ordem burguesa; os professores e funcionários cumprem, por sua vez, cada vez mais o papel de carcereiros. Portanto, o alto índice de reprovação dos professores nessa prova é apenas mais uma expressão da caótica situação da educação e toda a sociedade burguesa, submetida à irracional valorização do valor.


Publicado em 31.01.2010
por Conselho de Redação

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