domingo, 27 de fevereiro de 2011

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Causos de Ônibus "1"

As vezes fico pensando como o transporte público nos proporciona momentos incríveis, sou uma "utilizadora" assídua, acredito que mais por opção do que por necessidade e muitas vezes que estou dentro do ônibus, trem ou metro tento fazer coisas construtivas, como ler, escrever, dormir... mas algumas vezes confesso que o que faço é literalmente prestar atenção no que não é da minha conta... Isso faz com sinta diversas emoções, como a raiva, a alegria, o altruísmo, a empatia entre outros.

A última ocorreu na quinta-feira passada, estava eu indo bela e tranquila para a faculdade, lendo um livro que estava tão interessante que deixei ele de lado e comecei a prestar atenção na conversa de um casal de amigos que estavam atrás de mim (reparem que eu sei que era um casal de amigos 'realmente o livro era bom'kkkk).
Eles discutiam uma questão ética que se baseava no que se configura a compra de uma CNH (Carteira Nacional de Habilitação). A garota dizia que tinha uma amiga que havia comprado a dela, pois pagou e não fez nenhuma das aulas de CFC e nem as práticas e recebeu sua carteira, já ela fez todas as aulas, porém quis garantir que não teria nenhuma novidade, então pagou o "quebra" só para não ter surpresas.

Depois disso confesso que sentei debaixo de uma árvore, segurei uma maçã e refleti: Qual é a diferença das duas situações?
Essencialmente as duas situações são iguais, as duas compraram a carta (só que uma foi mais tonta kkk), enfim, mas como é característico do ser humano querer se justificar e sempre prevalecer com a "ética da conveniência", na verdade pensamos que podemos julgar e condenar atitudes alheias, mas em nenhum momento observamos nosso modo de agir e não nos damos conta de que aquilo que digo tanto menosprezar é o que mais faço. Quando isto ocorreu pensei seriamente sobre minha vida e minhas atitudes.
É interessante como em todos os lugares podemos encontrar questões que nos faça refletir sobre a vida, ou seja, é só sensibilizarmos nosso olhar que vermos coisas que provavelmente passaria desapercebido.

Acho que vou protelar a ideia de tirar habilitação, por enquanto o ônibus está servido bem.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Carta de Michael Moore aos estudantes de Wisconsin




Michael Moore


Milhares de servidores públicos unidos a grupos estudantis realizaram protestos sábado (19) em frente ao Capitólio do estado norte-americano do Winsconsin, na cidade de Madison. Foi o quinto dia de manifestações contra um projeto de lei apresentado pelo novo governador, o republicano Scott Walker. O objetivo do projeto é cortar gastos do orçamento estadual através da supressão de direitos trabalhistas em todo o Estado. O suposto equilíbrio das contas do Estado ocorreria com a anulação dos convênios coletivos com os funcionários públicos. Entusiasmado com a mobilização dos estudantes, o cineasta Michael Mooreenviou uma carta aberta para eles pedindo que se rebelem. Segue a carta:

Caros Estudantes:

Que inspiração, a de vocês, que se uniram aos milhares de estudantes das escolas de Wisconsin e saíram andando das salas de aula há quatro dias e agora estão ocupando o prédio do State Capitol e arredores, em Madison, exigindo que o governador pare de assaltar os professores e outros funcionários públicos !

Tenho de dizer que é das coisas mais entusiasmantes que vi acontecer em anos.

Vivemos hoje um fantástico momento histórico. E aconteceu porque os jovens em todo o mundo decidiram que, para eles, basta. Os jovens estão em rebelião – e é mais que hora!

Vocês, os estudantes, os adultos jovens, do Cairo no Egito, a Madison no Wisconsin, estão começando a erguer a cabeça, tomar as ruas, organizar-se, protestar e recusar a dar um passo de volta para casa, se não forem ouvidos. Totalmente sensacional!!

O poder está tremendo de medo, os adultos maduros e velhos tão convencidos que que fizeram um baita trabalho ao calar vocês, distraí-los com quantidades enormes de bobagens até que vocês se sentissem inpotentes, mais uma engrenagem da máquina, mais um tijolo do muro. Alimentaram vocês com quantidades absurdas de propaganda sobre “como o sistema funciona” e mais tantas mentiras sobre o que aconteceu na história, que estou admirado de vocês terem derrotado tamanha quantidade de lixo e estejam afinal vendo as coisas como as coisas são. 

Fizeram o que fizeram, na esperança de que vocês ficariam de bico fechado, entrariam na linha e obedeceriam ordens e não sacudiriam o bote. Porque, se agitassem muito, não conseguiriam arranjar um bom emprego! Acabariam na rua, um freak a mais. Disseram que a política é suja e que um homem sozinho nunca faria diferença.

E por alguma razão bela, desconhecida, vocês recusaram-se a ouvir. Talvez porque vocês deram-se conta que nós, os adultos maduros, lhes estamos entregando um mundo cada vez mais miserável, as calotas polares derretidas, salários de fome, guerras e cada vez mais guerras, e planos para empurrá-los para a vida, aos 18 anos, cada um de vocês já carregando a dívida astronômica do custo da formação universitária que vocês terão de pagar ou morrerão tentando pagar.

Como se não bastasse, vocês ouviram os adultos maduros dizer que vocês talvez não consigam casar legalmente com quem escolherem para casar, que o corpo de vocês não pertence a vocês, e que, se um negro chegou à Casa Branca, só pode ter sido falcatrua, porque ele é imigrado ilegal que veio do Quênia.

Sim, pelo que estou vendo, a maioria de vocês rejeitou todo esse lixo. Não esqueçam que foram vocês, os adultos jovens, que elegeram Barack Obama. Primeiro, formaram um exército de voluntários para conseguir a indicação dele como candidato. Depois, foram as urnas em números recordes, em novembro de 2008. Vocês sabem que o único grupo da população branca dos EUA no qual Obama teve maioria de votos foi o dos jovens entre 18 e 29 anos? A maioria de todos os brancos com mais de 29 anos nos EUA votaram em McCain – e Obama foi eleito, mesmo assim!

Como pode ter acontecido? Porque há mais eleitores jovens em todos os grupos étnicos – e eles foram às urnas e, contados os votos, viu-se que haviam derrotado os brancos mais velhos assustados, que simplesmente jamais admitiriam ter no Salão Oval alguém chamado Hussein. Obrigado, aos eleitores jovens dos EUA, por terem operado esse prodígio!

Os adultos jovens, em todos os cantos do mundo, principalmente no Oriente Médio, tomaram as ruas e derrubaram ditaduras. E, isso, sem disparar um único tiro. A coragem deles inspira outros. Vivemos hoje momento de imensa força, nesse instante, uma onda empurrada por adultos jovens está em marcha e não será detida.

Apesar de eu, há muito, já não ser adulto jovem, senti-me tão fortalecido pelos acontecimentos recentes no mundo, que quero também dar uma mão.

Decidi que uma parte da minha página na Internet será entregue aos estudantes de nível médio para que eles – vocês – tenham meios para falar a milhões de pessoas. Há muito tempo procuro um meio de dar voz aos adolescentes e adultos jovens, que não têm espaço na mídia-empresa. Por que a opinião dos adolescentes e adultos jovens é considerada menos válida, na mídia-empresa, que a opinião dos adultos maduros e velhos?

Nas escolas de segundo grau em todos os EUA, os alunos têm ideias de como melhorar as coisas e questionam o que veem – e todas essas vozes e pensamentos são ou silenciadas ou ignoradas. Quantas vezes, nas escolas, o corpo de alunos é absolutamente ignorado? Quantos estudantes tentam falar, levantar-se em defesa de uma ou outra ideia, tentar consertar uma coisa ou outra – e sempre acabam sendo vozes ignoradas pelos que estão no poder ou pelos outros alunos?

Muitas vezes vi, ao longo dos anos, alunos que tentam participar no processo democrático, e logo ouvem que colégios não são democracias e que alunos não têm direitos (mesmo depois de a Suprema Corte ter declarado que nenhum aluno ou aluna perde seus direitos civis “ao adentrar o prédio da escola”).

Sempre fico abismado ao ver o quanto os adultos maduros e velhos falam aos jovens sobre a grande “democracia” dos EUA. E depois, quando os estudantes querem participar daquela “democracia”, sempre aparece alguém para lembrá-los de que não são cidadãos plenos e que devem comportar-se, mais ou menos, como servos semi-incapazes. Não surpreende que tantos jovens, quando se tornam adultos maduros, não se interessem por participar do sistema político – porque foram ensinados pelo exemplo, ao longo de 12 anos da vida, que são incompetentes para emitir opiniões em todos os assuntos que os afetam.

Gostamos de dizer que há nos EUA essa grande “imprensa livre”. Mas que liberdade há para produzir jornais de escolas de segundo gráu? Quem é livre para escrever em jornal ou blog sobre o que bem entender? Muitas vezes recebo matérias escritas por adolescentes, que não puderam ser publicadas em seus jornais de escola. Por que não? Porque alguém teria direito de silenciar e de esconder as opiniões dos adolescentes e adultos jovens nos EUA?

Em outros países, é diferente. Na Áustria, no Brasil, na Nicarágua, a idade mínima para votar é 16 anos. Na França, os estudantes conseguem parar o país, simplesmente saindo das escolas e marchando pelas ruas.

Mas aqui, nos EUA, os jovens são mandados obedecer, sentar e deixar que os adultos maduros e velhos comandem o show.

Vamos mudar isso! Estou abrindo, na minha página, um “JORNAL DA ESCOLA” [orig. "HIGH SCHOOL NEWSPAPER", em http://mikeshighschoolnews.com/]. Ali, vocês podem escrever o que quiserem, e publicarei tudo. Também publicarei artigos que vocês tenham escrito e que foram rejeitados para publicação nos jornais das escolas de vocês. Na minha página vocês serão livres e haverá um fórum aberto, e quem quiser falar poderá falar para milhões.

Pedi que minha sobrinha Molly, de 17 anos, dê o pontapé inicial e cuide da página pelos primeiros seis meses. Ela vai escrever e pedirque vocês mandem suas histórias e ideias e selecionará várias para publicar em MichaelMoore.com. Ali estará a plataforma que vocês merecem. É uma honra para mim que se manifestem na minha página e espero que todos aproveitem.

Dizem que vocês são “o futuro”. O futuro é hoje, aqui mesmo, já. Vocês já provaram que podem mudar o mundo. Aguentem firmes. É uma honra poder dar uma mão.


Tradução: Vila Vudu

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Nojenta? A mulher perfeita não tem cheiro, nem pelos, hálito, chulé ou gosto. Nojo de nós mesmas?

  Bolhas de Sabão: tecnologia avançada para a mulher moderna ficar limpa e praticamente invisível


Nojinho de mim
Procurado pela Tpm, o psicanalista Christian Dunker resolveu mergulhar no nojo feminino para entender de onde vem esse  mal contemporâneo 

Por Christian Ingo Lenz Dunker
Muito genericamente, o corpo nos diz quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Ele se torna tão importante porque é também algo que imaginamos controlar, moldar e produzir como imagem de nós mesmos, como queremos nos apresentar para o outro. E o cheiro é um traço essencial de que há algo que não controlamos em nosso próprio corpo. Podemos usar xampus, pós, cremes e perfumes, mas essas táticas se degradam no tempo, são corrompidas por nosso suor, pelos odores do ambientes, pela presença do cheiro do outro. O que varremos para baixo do tapete permanece lá, escondido, invisível, mas aquilo que cheira mal, nos diz que mesmo estando escondido se revela na forma de uma sensação genérica e mal definida. Nosso cheiro diz, por isso mesmo, quem somos, para além do que queremos parecer. Isso não quer dizer que temos uma essência odorífica, mas que justamente por escapar, por ser mal definível, por ser um estranho dentro de nós mesmos, atribuímos ao cheiro esse lugar fascinante e perigoso. É por isso que o filme O Cheiro do Ralo (Heitor Dhalia, 2006) nos parece tão obsceno quanto atual.
Se na nossa cultura há uma promessa de que, controlando nossas imagens, controlamos como o outro nos percebe, aquilo que denuncia que as imagens enganam, ou seja, o cheiro, torna-se um problema crucial. “Por fora bela viola, por dentro pão bolorento”.
A ideia do sabonete íntimo é equivalente à tentativa de disciplinar as “partes pudentas” da mulher, de forma que elas não se mostrem indóceis, incontroláveis ou denunciantes. É interessante ver como, em geral, o sabonete íntimo cruza duas ideias ligadas ao poder moral do cheiro.
Primeiro temos a ideia de que as partes íntimas devem ser higienizadas, limpas. Esta é a ideia mais antiga, que representa a sexualidade em analogia com o sujo, o impuro e o doentio. A figura típica aqui é a da dona de casa, frustrada sexualmente, que consagra sua existência à mania de limpeza, ordem e higienização. Como as mãos de Lady MacBeth, que jamais são limpas do sangue do assassinato cometido, a sexualidade expulsa pela porta da frente, retorna pela porta de trás, como um cheiro, uma mancha, uma coisa mal definida. Hitchcock conseguiu por em imagens esta força sem forma, excessiva e invasiva representada pelo cheiro em seu filme Os Pássaros (1963).
Mas a nova retórica dos sabonetes íntimos recobre esta primeira figura com uma segunda ideia. Usar o sabonete íntimo não é só uma maneira de controlar o cheiro aversivo, mas uma forma de lembrarmo-nos que temos uma ... E que ela merece atenção, cuidado e observação. Menos que uma vagina inodora, queremos aqui um cheiro específico, que podemos escolher, controlar, variar. A imagem trazida aqui é a da mulher que, mesmo menstruada, veste calça branca, faz ginástica e está disposta a qualquer coisa.

Cheiro secreto
O nojo é um dos chamados sentimentos sociais, ou seja, depende da forma como aprendemos a dissociar em nosso corpo o que é permitido do que é proibido, o prazer desejável do prazer interditado. Freud dedicava grande importância ao nojo como afeto social muito primitivo, tanto na história da criança, quanto na história de nossa cultura.
De fato relação com secreções e excreções são as experiências originárias do nojo, e apontam para o que deve ser excluído e escondido em nossa cultura e em nós mesmos. Por exemplo, os alemães, povo tido como meticuloso e metódico, utilizam privadas sanitárias nas quais os dejetos podem cair (em um recuo específico de porcelana), aí serem inspecionados e, em seguida, levados pela água, segundo a precisa deliberação do usuário. Já os franceses, povo mais político e dado à controvérsia, dispensam este lugar reservado para coletar os dejetos, mas permitem que a coisa flutue antes de ser abruptamente subtraída. Os japoneses, culturalmente associados com a tecnologia, inventaram as privadas com duchas automáticas, de tal forma que não é necessário ver e o mínimo de odor é experimentado. Nós brasileiros, adoramos a turbulência excessiva e os rodamoinhos pelo qual muita água deve ser escoada para limpar bem nossos rastros.
Portanto, o nojo é sempre primariamente de si, depois ele é depositado no outro. Freud fez uma afirmação clínica muito forte sobre o nojo: “Toda vez que, diante de uma experiência potencialmente sexual, encontramos no paciente o sentimento de nojo, não hesitamos em diagnosticar a histeria”. Ou seja, o nojo como afeto deslocado, o nojo excessivo, o nojo fora de lugar, aponta para um aspecto da sexualidade do qual não queremos saber em nós mesmos.
Uma mulher percebida como suja ou insuficientemente limpa é associada com alguém que coloca seu desejo ativamente, que tem vontade de se sexualizar ou, inversamente, alguém que não se importa com a opinião (e logo com o desejo) dos outros. Portanto, a higienização feminina liga-se tanto ao processo de cuidar, de observar e de tratar do próprio corpo (como satisfação intrínseca) quanto ao processo pelo qual a mulher se apresenta como capaz de controlar seu corpo (logo sua sexualidade), como um corpo que não foi tocado por outro (para a fantasia masculina seria um corpo sem rastros) e como moralmente desejável.
Mas vale lembrar que um ser humano essencialmente cheira. O cheiro é o rastro de suas experiências com os outros e consigo mesmo. A obsessão de não ter cheiro é a expressão da negação de nossa humanidade. É isso que nossa época parece pedir: “Seja intenso, viva a vida e aproveite, mas ao mesmo tempo negue a sua própria humanidade e leve uma vida líqüida: insípida, incolor e inodora.” Tome café, mas sem cafeína, coma chocolate, mas sem açúcar, viva paixões, mas sem se perder, ou seja, viva a vida, mas não seja humano.

Retirado de : 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Gasto social com educação é o que mais eleva o PIB




Em seu Comunicado nº 75, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela a importância que os gastos sociais adquiriram no Brasil para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e a redução das desigualdades. Segundo o estudo, que usou como base dados de 2006, cada R$ 1 gasto com educação pública gera R$ 1,85 para o PIB, e o mesmo valor investido na saúde gera R$ 1,70. Foram considerados os gastos públicos assumidos pela União, pelos estados e municípios.

Os chamados gastos sociais fizeram o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescer 7% entre os anos de 2004 e 2008, segundo o estudo "Gasto com a Política Social: Alavanca para o Crescimento com Distribuição de Renda" produzido pelo Ipea e divulgado quinta-feira. Durante o período, o PIB do País teve avanço real de 27%, segundo o instituto.

Ao comparar tipos diferentes de gasto social, o Comunicado concluiu que aquele destinado à educação é o que mais contribui para o crescimento do PIB, haja vista a quantidade de atores envolvidos nesse setor e os efeitos da educação sobre setores-chave da economia. “O gasto na educação não gera apenas conhecimento. Gera economia, já que ao pagar salário a professores aumenta-se o consumo, as vendas, os valores adicionados, salários, lucros, juros”, explicou o diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Jorge Abrahão.

Abrahão apresentou o estudo ao lado de Joana Mostafa, técnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea. Por sua vez, quando se calcula o tipo de gasto social que tem o maior efeito multiplicador na renda das famílias, em primeiro lugar aparece o Programa Bolsa Família (PBF). Para cada R$ 1 incluído no programa, a renda das famílias se eleva 2,25%. “A título de comparação, o gasto de R$ 1 com juros sobre a dívida pública gerará apenas R$ 0,71 de PIB e 1,34% de acréscimo na renda das famílias”, acrescenta o Comunicado, intitulado Gastos com política social: alavanca para o crescimento com distribuição de renda.

O texto afirma ainda que 56% dos gastos sociais retornam ao Tesouro na forma de tributos. “O gasto social não é neutro. Ele propicia crescimento com distribuição de renda. Ele foi muito importante para o Brasil superar a crise de 2008. Esse gasto tem uma grande importância como alavanca do desenvolvimento econômico e, logicamente, do bem-estar social”, concluiu Abrahão.

A íntegra do Comunicado n° 75

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Anúncio

"Vende-se um computador usado, chutado e esmurrado ou troca-se por uma cartela de analgésico"





...

Muito bacana este anúncio, eu o vi no metro...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Demétrio Magnoli fala sobre seu novo livro "Uma gota de sangue"


Quando fiquei sabendo do novo livro do Magnoli, logo tive uma imensa vontade de lê-lo... como ainda não o fiz, fica este ligeiro comentário do mesmo feito pelo próprio autor.
"A desgraça de quem não gosta de política é ser governado por quem gosta" (Platão)

“É preciso respeitar a decisão do povo de cada país”




Em entrevista exclusiva à Carta Maior, o embaixador Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, analisa os recentes acontecimentos no Oriente Médio e norte da África e suas possíveis repercussões. O ex-chanceler chama a atenção para o fato de que as revoltas populares ocorrem em países considerados “amigos do Ocidente” que não eram alvo de nenhum tipo de crítica ou sanção. “Há algumas lições a serem tiradas destes episódios. A primeira delas é que é preciso respeitar os movimentos internos e não querer impor mudanças a partir de fora”, diz Amorim, defendendo a postura adotada pela diplomacia brasileira nos últimos anos.
- “Há algumas semanas, se fosse realizada uma consulta entre especialistas em política internacional pedindo que apontassem dez países que poderiam viver proximamente uma situação de conflito político-social, duvido que algum deles apontasse a Tunísia”. 

O embaixador Celso Amorim, ministro de Relações Exteriores do Brasil por mais de oito anos (dois mandatos do governo Lula e mais um período no governo Itamar Franco), iniciou a conversa telefônica, direto da embaixada do Brasil em Paris, chamando a atenção para a complexidade e o dinamismo do cenário internacional e para o baixo nível de conhecimento que se tem sobre a situação de muitos países. Em entrevista exclusiva à Carta Maior, concedida no início da tarde desta sexta-feira, Celso Amorim analisa os recentes acontecimentos no Oriente Médio e no norte da África e suas possíveis repercussões. Como que para ilustrar o dinamismo mencionado por Amorim, quando a entrevista chegou ao fim, Hosni Mubarak não era mais o presidente do Egito.

Na entrevista, o ex-chanceler brasileiro chama a atenção para o fato de que as revoltas populares que o mundo assiste agora, especialmente na Tunísia e no Egito, acontecem em países considerados “amigos do Ocidente” que não eram alvo de nenhum tipo de sanção por parte da comunidade internacional. “Isso mostra que a posição daqueles que defendem sanções contra o Irã é equivocada”, avalia. Amorim acredita que uma mudança política no Egito terá impacto em toda a região, cuja extensão ainda é difícil de prever. E defende a política adotada pelo Brasil nos últimos anos apostando na capacidade de diálogo do país, reconhecida e requisitada internacionalmente.

CARTA MAIOR: Qual sua avaliação sobre a rebelião popular no Egito e seus possíveis desdobramentos políticos e geopolíticos na região?

CELSO AMORIM: Uma primeira característica que considero importante destacar é que os protestos que estamos vendo agora são movimentos endógenos. É claro que eles se valem de novas tecnologias e de alguns valores modernos, mas são motivados pela situação interna destes países. O Egito e a Tunísia, cabe assinalar também, não estavam sob sanções por parte do Ocidente. Isso mostra que a posição daqueles que defendem sanções contra o Irã é equivocada. Sanções só reforçam internamente um regime. Uma das expectativas das sanções contra o Irã era atingir a Guarda Revolucionária. Na verdade, só atingem o povo. O Iraque foi submetido a sanções durante anos e Saddam só ficava mais forte. Não havia, repito, sanções contra a Tunísia e o Egito, países considerados amigos do Ocidente e aliados inclusive na guerra contra o terrorismo, implementada pelos Estados Unidos.

Acredito que uma mudança política no Egito terá certamente um impacto em toda região, podendo inclusive provocar uma mudança de relacionamento com países como Israel e Síria. Mas isso dependerá da evolução dos acontecimentos.

CARTA MAIOR: A sucessão de acontecimentos semelhantes em países do Oriente Médio e do Norte da África já pode ser considerada como uma onda capaz de expandir para outros países também?

CELSO AMORIM: Potencialmente, sim. Mas é difícil prever. Depende dos desdobramentos do Egito. Não há dúvida que Mubarak sairá [enquanto concedia a entrevista, a renúncia do ditador egípcio foi confirmada]. A questão é saber como ele sairá. Certamente haverá uma mudança no regime político do Egípcio. Não sabemos ainda em que intensidade. Mas é importante ter em mente que as duas forças organizadas no país são as forças armadas e a Irmandade Islâmica. A Irmandade Islâmica não é nenhum bicho papão. Cabe lembrar que muita gente tem citado a Turquia (que tem um partido islâmico no poder) como um modelo de caminho possível para o Egito.

A influência dos acontecimentos no Egito deve se manifestar em ritmos e intensidades diferentes, dependendo da realidade de cada país. Como a Tunísia nos mostrou, é preciso esperar o inesperado.

CARTA MAIOR: A diplomacia ocidental foi pega de surpresa por esses episódios?

CELSO AMORIM: Certamente que sim. O próprio presidente Obama admitiu isso ao falar dos relatórios dos serviços de inteligência dos Estados Unidos. Ninguém estava esperando o que aconteceu na Tunísia que acabou servindo de estopim para outros países como Yemen e Egito. Nos mais de oito anos que trabalhei como chanceler nunca ouvi uma palavra de crítica sobre a Tunísia. E alguns conceitos fracassaram. Entre eles o de que se o país é pró-ocidental é necessariamente bom. Os Estados Unidos seguem poderosos no cenário internacional, mas frequentemente superestimam essa influência.

Há algumas lições a serem tiradas destes episódios. A primeira delas é que é preciso respeitar os movimentos internos e não querer impor mudanças a partir de fora. As revoltas que vemos agora (na Tunísia e no Egito) iniciaram dentro destes países contra governos pró-ocidentais e não nasceram com características antiocidentais ou anti-imperialistas.

CARTA MAIOR: O Oriente Médio é hoje uma das regiões mais conflituosas do planeta. Os levantes populares que estamos vendo podem ajudar a melhorar esse quadro?

CELSO AMORIM: Creio que teremos agora um quadro mais próximo da realidade. Há uma certa leitura simplificada do Oriente Médio que não leva em conta o que o povo desta região pensa. Não é possível ignorar a existência de organizações como a Irmandade Islâmica ou o Hamas. Se ignoramos fica muito difícil traçar uma estratégia que leve a uma paz estável.

CARTA MAIOR: O jornalista israelense Gideon Levy escreveu ontem no Haaretz dizendo que o Oriente Médio não precisa de estabilidade, referindo-se de modo à crítica à suposta estabilidade atual, que seria, na verdade, sinônimo de pobreza, desigualdade e injustiça. Qual sua opinião sobre essa avaliação?

CELSO AMORIM: De fato, a desigualdade social é uma das causas muito fortes dos problemas que temos nesta região. É um fermento muito grande para revoltas. A verdadeira estabilidade não se resume a ter um determinado governante no poder. Não basta ter eleição. É preciso aceitar o resultado da eleição. Estamos falando de uma região muito complexa, com sentimentos anticoloniais muito fortes. Esse quadro exige uma flexibilidade muito grande e capacidade de diálogo com diferentes interlocutores.

CARTA MAIOR: Qual sua análise sobre a evolução dos acontecimentos no Oriente Médio à luz da política externa praticada durante sua gestão no Itamaraty?

CELSO AMORIM: Como referi antes, nós procuramos manter uma relação ampla com diferentes interlocutores. As críticas que sofremos vieram mais da mídia brasileira do que de outros países. Nossa política em relação ao Irã, por exemplo, não foi para mudar esse país. O objetivo era contribuir para a paz, tentando encontrar uma solução para a questão nuclear. Quem mudou de ideia no meio do caminho foram os Estados Unidos. O próprio El Baradei (ex-diretor geral da Agência de Energia Atômica), que agora voltou a cena no Egito, chegou a dizer, comentando a Declaração de Teerã, que quem estava contra ela é porque, no fundo, não aceitava o sim como resposta.

Acredito que nós precisamos de países com capacidade de ver o mundo com uma visão menos maniqueísta. Agora, todo mundo está chamando Mubarak e Ben Ali de ditadores. Até bem pouco tempo não assim. A maioria da imprensa internacional não os chamava de ditadores. O importante é saber respeitar a vontade e a decisão do povo de cada país. O Brasil tem essa capacidade reconhecida mundialmente. Várias vezes fomos requisitados para ajudar na interlocução entre países. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, por exemplo, nos pediu para ajudar a retomar o diálogo com a Síria. O Brasil tem essa capacidade de diálogo que não demoniza o outro. Essa é a pior coisa que pode acontecer na relação entre os países: demonizar o outro. Não se pode, repito, ignorar a presença da Irmandade Islâmica ou do Hamas. Podemos não gostar destas organizações. Isso é outra coisa. Mas estamos que estar prontos para conversar.

Espero que o Brasil faça jus às expectativas que existem sobre ele, sobre sua capacidade de diálogo e interlocução. Não se trata de mania de grandeza. Nós temos essa capacidade de diálogo e ela é requisitada. Seguramente o Brasil tem a possibilidade, e eu diria mesmo a necessidade, de ter essa participação e ajudar a construir a paz. Até porque esses fatos nos afetam diretamente. Basta ver o preço do petróleo que está aí aumentando em função dos conflitos.

Fonte: Carta Maior

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O que será (À flor da pele)


O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mentir e me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita
O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite
O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os tremores me vêm agitar
E todos os suores me vêm encharcar
E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz suplicar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo.
Composição: Chico Buarque

Adoro Chico Buarque, mas principalmente esta música, ela me remete ao que realmente sinto, ela é foda!! Me faz lembrar das metamorfoses vivenciadas a todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos... e que realmente bole comigo (e com todos, mesmo aqueles que não assumem).... Para mim a música fala sobre os desejos humanos mais íntimos (liberdade, amor, sexo, salvação etc) e da impossibilidade de os controlar. Existe uma certa devoção nesta composição, seja ela qual for, já que ela será subjetiva. Não vejo uma fala exclusiva de amor, mas sim de desejos, e o ser humano é movido por necessidades e principalmente por desejos. Em alguns momentos acho que trata-se do incontestável.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Um outro Oriente Médio é possível?



Os protestos populares na Tunísia, Egito, Iêmen e Jordânia apresentam uma agenda renovada para o Fórum Social Mundial que inicia de 6 de fevereiro em Dakar, Senegal. A aplicação da consigna do FSM aos problemas dessa região coloca a seguinte questão: “Outro Oriente Médio é possível?”. O que está acontecendo no Egito mostra que o castelo das autocracias apoiadas e sustentadas pelos EUA é menos sólido do que parecia. Milhões de jovens, homens e mulheres, estão nas ruas dizendo que é possível, sim. E necessário.
O Fórum Social Mundial 2011 começa dia 6 de fevereiro em Dakar, Senegal. O encontro ganhou uma nova agenda com a onda de protestos populares que já atingiu a Tunísia, o Egito, o Iêmen e a Jordânia. O mais significativo de todos, sem dúvida, é o Egito, em função do que o país representa em termos geopolíticos no Oriente Médio. Egito e Arábia Saudita são dois pilares centrais da aliança EUA-Israel na região. Uma mudança de regime político em um desses dois países pode significar um terremoto político. 

Washington, Tel Aviv e alguns outros governos árabes sabem disso, obviamente, e estão com as barbas de molho. Na noite desta terça, o presidente dos EUA, Barack Obama, cobrava de seu até aqui aliado egípcio, Hosni Mubarack, o “início imediato da transição” política no país. Vão-se os anéis para assegurar a permanência dos dedos. A velha história. E os EUA temem o pior. Olham para o Egito, a Árabia Saudita, a Jordânia e a Palestina com indisfarçável pânico.

Quem ouve a voz dos milhões de egípcios que perderam o medo da repressão e foram para as ruas sabe que o pior é a manutenção do atual regime, financiado e armado pelos Estados Unidos há décadas. Enérgico na denúncia e na cobrança por democracia quando se trata de países como o Irã – ou na “implantação da democracia” a ferro e fogo, no caso do Iraque -, os EUA silenciam quando se trata das suas ditaduras amigas no Oriente Médio, especialmente no caso do Egito e da Arábia Saudita. Ou silenciavam, ao menos, já que agora foram obrigados a se manifestar. 

Desta vez, os malabarismos linguísticos e semânticos não conseguem esconder a natureza do problema. E a natureza do problema no Egito não reside no fundamentalismo islâmico ou nas aspirações sociais e políticas da Irmandade Muçulmana. O problema reside em um regime autoritário e corrupto, apoiado e sustentado pelos EUA, que governa para um pequeno grupo, deixando milhões de pessoas vivendo na pobreza (cerca de 20% da população vive abaixo da linha da pobreza).

A aplicação da consigna do FSM aos problemas dessa região coloca a seguinte questão: “Outro Oriente Médio é possível?”. O que está acontecendo no Egito mostra que o castelo das autocracias apoiadas e sustentadas pelos EUA é menos sólido do que parecia. Milhões de jovens, homens e mulheres, estão nas ruas dizendo que é possível, sim. E necessário. Basta que os líderes ocidentais supostamente defensores da democracia deixem de financiar aqueles que não querem que os povos destes países escolham o seu destino. Deixem a democracia entrar no Oriente Médio. Não é essa a promessa universal do Ocidente? E seja o que Deus quiser. Ou o que Alá quiser! 

O povo egípcio não está rua por questões religiosas. Está na rua porque, entre outras coisas, decidiu cobrar as promessas civilizatórias do Ocidente: democracia, liberdade, prosperidade, justiça social. As consequências desses protestos são incertas. Neste exato momento, a turma dos anéis está em campo para tentar salvar os dedos do modelo atual. Mas uma coisa parece definitiva: o povo egípcio perdeu o medo e decidiu mudar os rumos do país. Essa é uma força muito difícil de ser detida e costuma ter um impacto profundo na vida das nações.

Marco Aurélio Weissheimer (Carta Maior)