sexta-feira, 20 de abril de 2012

Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios




Um triângulo amoroso que envolve uma ex-prostituta, um fotógrafo e um pastor na Amazônia. Os ingredientes não fariam feio em qualquer novela, mas são eles que movem o novo filme do diretor Beto Brant ("O Invasor"), "Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios".
O sétimo longa do cineasta paulista é a quinta parceria com o escritor Marçal Aquino e a segunda com o codiretor Renato Ciasca. A gestação, porém, foi um pouco mais demorada do que a dos projetos anteriores.
"Quando estávamos terminando 'O Invasor', em 2002, sabíamos que ele estava escrevendo essa história linda de amor, mas precisávamos esperar pela publicação [em 2005]", lembra Brant.
A encarnar a protagonista está Camila Pitanga, cuja rota até o set do longa foi cheia de obstáculos. "Primeiro, a gente achava que não ia ter dinheiro. Depois, ela tinha acabado de ter uma filha e fiquei com medo. Não era o momento apropriado para assumir uma personagem tão caótica", conta Brant.
Como a roteirização durou mais um tempo, a ideia de ter Pitanga para o papel de Lavínia, ex-prostituta e drogada que busca salvação entre os afagos de um pastor (Zecarlos Machado) e a paixão por um fotógrafo (Gustavo Machado), retornou forte.
Pitanga conta que, em 2009, Brant ligou para dizer que estava pensando em convidá-la para o projeto, mas queria que ela lesse o romance antes. "Assim que li, liguei. Fiquei impactada."
"Fui atrás da imagem mais fabulosa de mulher no Brasil", derrete-se Brant. "Sempre procurei uma personagem que pudesse me oferecer um trabalho visceral", completa a atriz.
O "trabalho visceral" exigiu uma determinação ímpar da atriz, que assumiu um papel repleto de cenas de nudez frontal e de sexo. "Às vezes, as pessoas não notam que há uma construção da personagem. Eu não transei com o Gustavo e não enlouqueci de verdade", diz. "É estranho saber que ainda é um tabu, mas eu gosto que as pessoas falem tanto das cenas de sexo."
PREPARAÇÃO
A preparação para os problemas psicológicos de Lavínia realçou demônios interiores. "A nudez nunca foi a questão. O que me preocupava era o segundo momento [o enlouquecimento], que poderia resultar patético."
Camila conversou com psiquiatras e pacientes, visitou hospitais e até fez aulas de butô para ajudar na interpretação corporal. "Tenho casos de doenças mentais na minha família, mas quis fugir desse lado da experiência, queria conhecer o lado de quem está com a doença", diz.
A última parte da preparação foi quando a equipe voltou de Santarém (Pará), onde parte do longa foi filmada.
Uma pausa de três semanas foi concedida para Pitanga emagrecer e assumir o aspecto decadente da prostituta antes da "redenção". "Foi o mais difícil para mim. Fiquei esgotada fisicamente, virava as noites sem dormir de propósito me enfiando nesse buraco de decadência e sem ânimo de Lavínia."
"Ela começou a cansar mais facilmente nos ensaios e a ficar mais inquieta. Ficou realmente fragilizada", confirma Beto Brant.
O sacrifício valeu a pena. A interpretação de Pitanga já lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival do Rio e no Festival de Cinema do Amazonas, no ano passado. "Certamente é minha personagem mais complexa", diz.

Nenhum comentário: